sábado, 5 de fevereiro de 2011

OH GOD THY SEA IS GREAT..MY BOAT SO SMALL "OH, DEUS, TEU MAR É TÃO GRANDE, E MEU BARCO É TÃO PEQUENO..."


"OH, DEUS, TEU MAR É TÃO GRANDE, E MEU BARCO É TÃO PEQUENO..." 

OH GOD THY SEA IS GREAT..MY BOAT SO SMALL

Acabei de ver o Filme "Treze dias que abalaram o Mundo". Ele termina com essa frase sendo evidenciada, alusiva ao quanto nos sentimos pequenos, quando temos que tomar decisões que envolvem uma realidade complexa, assumindo os riscos por seus eventuais e ás vezes incontroláveis desdobramentos. Ora, há situações em que REALMENTE temos que tomar decisões, e elasTEM que ser as decisões CORRETAS. Como alguém já disse, entre DEUS e o diabo só há os HOMENS DE BOA VONTADE, termo este tomado em seu sentido geral, indicando os seres humanos, homens e mulheres de BEM, e que devem usar todos os recursos disponíveis para que prevaleça o caminho certo. E o caminho certo, com certeza, é aquele que beneficie ao maior número de pessoas de bem. Poderíamos chamá-lo de BEM COMUM. O fato é que surgem determinadas encruzilhadas, sejam políticas ou existenciais, em que o melhor caminho há de ser o que permita a conciliação pacífica de interesses, mesmo quando submetidos às mais diversas formas de pressão. Se chegamos hoje, no início do século XXI, a um estágio de desenvolvimento do espírito humano em que prevalecem as SOLUÇÕES PACÍFICAS, a priori, dos litígios que surgem, nas mais diversas modalidades do relacionamento humano, seja no seio familiar, seja no contexto das nações, é graças ao esforço de pessoas corajosas, que souberam escolher o lado RACIONAL em detrimento das opções precipitadas ou puramente emotivas, diante de situações cruciais, que tenderiam a nos conduzir ao aprofundamento de uma crise em curso ou à generalização de um conflito iminente. Pessoas que souberam nos conduzir ao desarmamento dos ânimos arrefecidos em prol de entendimento entre interesses opostos. Forçar a barra, ou partir para o ataque direto, excluindo as soluções negociáveis, encontra hoje barreiras mais sólidas, que se manifestam tanto nas leis em vigor, como nas mais elementares regras do trato social. Falando em linguagem coloquial, o tempo de simplesmente "partir para a porrada" acabou. Isso hoje se reflete tanto na maneira como os pais educam seus filhos, em que a imposição de castigos físicos é algo ilegal e imoral, passando pelo relacionamento entre os casais - em que as agressões ou crimes passionais se tornaram intoleráveis - quanto na maneira como grupos antagônicos - seja qual for sua dimensão - resolvem seus atritos. Torcidas organizadas, diferentes grupos étnicos, facções políticas ou religiosas, enfim, a regra em vigor é e deverá ser por bastante tempo, no mundo dito civilizado, a regra da PAZ. A imposição de condições só se justifica hoje quando e se embasada em critérios legais pre-determinados, como o uso da Força contra o crime, ou para submeter uma resistência manifestamente ilegal.

Vale terminar, citando Shakespeare:
"SONNET XVI

But wherefore do not you a mightier way
Make war upon this bloody tyrant, Time?
And fortify yourself in your decay
With means more blessed than my barren rhyme?
Now stand you on the top of happy hours,
And many maiden gardens yet unset
With virtuous wish would bear your living flowers,
Much liker than your painted counterfeit:
So should the lines of life that life repair,
Which this, Time's pencil, or my pupil pen,
Neither in inward worth nor outward fair,
Can make you live yourself in eyes of men.
To give away yourself keeps yourself still,
And you must live, drawn by your own sweet skill.

TRADUÇÃO:

SONETO XVI


Por que não usas meio mais viril
Ao guerrear, oh Tempo, o sanguinário?
E à tua decadência, mais que o vil
Poema, não provocas danos vários?
Agora estarias vivendo os teus amores
E diversos jardins, ainda intactos,
Germinariam tuas ricas flores,
Mais sinceras que teu próprio retrato.
Vê como então o herdeiro te repara,
Pois o pincel do Tempo ou minha pena
Teu mais alto valor e feição rara
Aos homens não provocam melhor cena.
E se ao mundo te dás, tua beleza
Assim persistirá por tal destreza."

FINALIZANDO, NÃO PODERIA DEIXAR DE REPRODUZIR:

"No, Time, thou shalt no boast that I do change!
Thy pyramids built up with newer might
To me are nothing novel, nothing strange;
They are but dressings of a former sight.

( Não, Tempo, não zombarás de minhas mudanças!
As pirâmides que novamente construíste
Não me parecem novas, nem estranhas;
Apenas as mesmas com novas vestimentas.)


Se adverte nestes versos uma alusão à doutrina do tempo circular, que professaram os pitagóricos e os estóicos e que Santo Agostinho refutou. Também pode advertir-se que Shakespeare descria de novidades.

Tecnicamente os sonetos de Shakespeare são, é indiscutível, inferiores aos de Milton, aos de Wordsworth, aos de Rossetti ou aos de Swinburne. Incidem em alegorias momentâneas, que só a rima justifica, e em engenhosidades nada engenhosas. Há, não obstante, uma diferença que não devo calar. Um soneto de Rossetti, digamos, é uma estrutura verbal, um belo objeto de palavras construído pelo poeta e que se interpõe entre ele e nós; os sonetos de Shakespeare são confidências que nunca acabaremos de decifrar, pois sentimos imediatas e necessárias.


Buenos Aires, treze de dezembro de 1980.

(excertos da introdução aos 48 Sonetos, traduzidos para o castelhano por Manuel Mújica Lainez

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