sábado, 9 de abril de 2011

O FILÓSOFO AUTODIDATA

Uma corrente da filosofia árabe sobre a intelectualidade universal na emanação do Ser Supremo.

Caro leitor, primeiramente te convido a conhecer um pouco sobre o filósofo árabe Ibn Tufayl.


Nascido cerca de 1105, (Séc VI da Hégira) em uma pequena cidade andaluza de Guadix “Wadi Ach”, de Muhammad ibn Abdal-Malik ibn Tufayl al-Qaysi, chamado segundo o nome de um de seus filhos Abu Bakr. Seu trisavô liga-se à ilustre tribo árabe dos Qais.
A biografia de Ibn Tufayl é pobre em datas. A maioria é inferida a partir de outros acontecimentos da política árabe e andaluza.
Cerca de 1150. A partir dos quarenta anos, Ibn Tufayl vive momento de dúvidas entre a medicina e as politicas diplomatas.
1154 – se torna secretario do governador de Ceuta e de Tânger.
Em seguida vai para Marrakech, onde se torna amigo e médica pessoal do sultão almóada Abu Yakub Yusuf, líder dos crentes no Islã do Ocidente. Nesse momento Ibn Tufayl representa um papel muito importante para o desenvolvimento ulterior da filosofia árabe: proteger Averróes, que beirava então os trinta anos, apresentando-o ao califa.
1168 – Ibn Tufayl leva Averróes a compor seu comentário de Aristóteles.
1182 – Delega a Averróes suas funções de médico do califa.
1184 – Após a morte do califa, assume o sucessor , filho, Abou Yusuf e Ibn Tufayl conserva os favores do novo soberano.
1185-1186 – Morte de Ibn Tufayl em Marrakech. Averróes morrerá treze anos mais tarde, em 1198.

Pois bem, você conheceu um pouco da biografia de um filósofo pouco conhecido no Ocidente, mas que contribui muito para filosofia no mundo árabe. Se você desejar conhecer um pouco mais sobre o autor, lhes indico a leitura da obra: “O filósofo autodidata” editora Unesp.

Vamos agora adentrar o tem, assim como mencionei acima, o filósofo estabelece uma forte corrente de seu mundo, podemos encontrar em sua obra diversas citações do Alcorão – O livro sagrado do Islã.
Ibn Tufayl nos fala que o ato de aprender por si mesmo não é uma novidade, pois para ele o conhecimento de si próprio se dá a todos desde muito tempo. Na filosofia árabe todo seu pensamento conduz a um novo resultado, porem idêntico ao de sua religião, mas por outro lado isso torna-se a busca individual do ser humano e assim transmitir a todos a grande importância do conhecimento.
A obra de Ibn Tufayl em, “O Filósofo Autodidata”, demonstra de forma resumida as doutrinas correntes na filosofia árabe sobre a intelectualidade universal que abrange o Ser Supremo. No decorrer da obra, observam-se várias vezes citações com já mencionei acima do Alcorão. A história se baseia na vida de Hayy ibn Yaqzan, cujo nome quer dizer “Vivo, filho do Acordado”, ou ainda “Vigilante”. A obra desenvolve uma aventura ao mesmo tempo “exterior e interior” o ”Uno e o Múltiplo”, o “Ser e o Nada”.
Ele descobre a simpatia e a afeição dos seres  que lhe assemelham: os animais.
Diz a tradição que Hayy nasceu sem pai e mãe, outro diz que ele foi lançado no mar dentro de uma barca, onde com a maré alta a barca foi lançada numa ilha distante, ao chegar nessa ilha foi adotado por uma gazela que acabara de perder seus filhotes.
A gazela devido ao choro do menino foi se achegando perto e aos poucos foi alimentando, pois a criança chorava de fome. O menino foi crescendo e habituou-se tanto com a gazela, que ele acreditava que ela era sua mãe.
O tempo foi passando, o menino crescendo e a gazela começa a ficar doente até que ele vem a morrer.
Quando isso ocorre o menino não entende e começa a buscar as formas da morte da gazela, os motivos que o deixara só, em outras palavras ele passa a examinar a causa da morte um “cirurgião”. Pensa que a morte da gazela foi originada por um dano em algum membro oculto do corpo. Hayy disseca o cadáver da gazela e descobre o coração e começa a fazer um minucioso exame desse coração. (quantas vezes queremos descobrir os mistérios do coração e deixamos de entende a mente, sentimentos etc.) Então ele se convence que havia um ser em seus compartimentos e que esse ser partiu deixando o corpo.
Depois de um longo tempo vendo que não havia mais o que fazer ele enterra a gazela, e a partir daí, começa uma nova história.

“Assim que adquiriu a certeza de que sua essência verdadeira não podia corromper-se, quis saber qual seria sua condição quando ela tivesse abandonado o corpo e se tivesse libertado dele. Mas já se tinha convencido de que ela só abandona quando este não mais lhe convém como instrumento”

Perdendo a gazela, Hayy acredita que o mundo se reduz naquela ilha sendo que ele não encontra ninguém a sua semelhança. Nesse ponto Hayy conhece o fogo e o mantem aceso dentro de uma cova. Com esse conhecimento ele aprender a comer carne assada e a praticar a caça e a pesca.  Nesse ponto sua atenção começa a se voltar para o conhecimento da alma. Princípios por discernir as funções da alma vegetativa e a natureza dos quatros elementos; terra, ar, fogo, água.
Com isso Hayy afirma em sua ideia a existência de um Criador incorpóreo e este Criador é a causa dos demais seres. Assim esse Criador tem todas as qualidades de perfeição.
Assim, considera a espécie inteira lhe aparecida una, e a multiplicidade dos indivíduos que ela compreende lhe parecia comparável à multiplicidade dos membros de um individuo que não é realmente uma multiplicidade.

Essas reflexões nos fazem compreender que o 'espírito' animal, comum a todo reino animal é uno na realidade, mesmo que ainda se apresente diferença entre uma espécie e outra, dentro se seu âmbito.

Para concluir Hayy fez algumas “viagens” no seu mundo exterior e interior. Na sua ida para o mundo sensível como a obra relata e ao seu voltar que lhe causou aversão à vida terrestre. Hayy a cada dia buscava o conhecimento e suas viagens interiores ao que é mundo sensível foi se tornando prática ao ponto de considerar que o melhor é viver no mundo das descobertas interiores mesmo sabendo que o exterior está a sua espera.
Os Olhos de seu coração se abriram, o fogo de seu pensamento se acendeu e sua concordância entre razão e a tradição se estabelecer em si.

Poderia aqui abranger muito mais sobre a obra, por isso te convido a procurar e fazer a leitura desse livro. Que você possa se descobri, se conhecer e assim melhorar seus caminhos por uma atitude simples e ao mesmo tempo complexa. “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os deuses. Esta citação foi escrita há muito tempo em um Templo consagrado ao deus Apolo, em Delfos, na Grécia, atribuída ao filósofo Sócrates. Assim, mergulhados em preocupações com a aparência e o consumo, pensamos estar cuidando de nós mesmos, quando na verdade estamos nos perdendo em meio às coisas. É preciso conhecer a si mesmo para não perder-se. Claro que você não vai encontrar toda verdade em si mesmo, mas, pelo menos, a única verdade capaz  de ajuda-lo a crescer muito mais.



 Sugestão de Leitura

O filósofo autodidata - Ibn Tufayl - Editora Unesp- SP, 2005

2 comentários:

  1. Creio ser impossível ao homem partir do nada e chegar a conclusões tão complexas como o personagem do livro. Isso me faz pensar que este já é um ser com elementos culturais herdados de outras vidas, que já traz em sua bagagem algo latente, que nem mesmo ele tem consciência. Livro maravilhoso, um livro que precisa ser lido e relido muitas vezes.

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